É engraçado ter que lembrar isso, mas no mundo real, as coisas não funcionam como nas novelas, que quando se viaja para fora do país, todo mundo sabe falar português. O Brasil pode até se iludir achando que suas cidades estão preparadas para receber uma Copa do Mundo mostrando Estádios perfeitos e tapando as obras inacabadas. Mas a falta de comunicação e a despreparação dos estabelecimentos perante ao turista estrangeiro não terão como serem colocadas de baixo do tapete. E o que pude ver em Porto Alegre é que os gringos que chegarem aqui sairão com um belo curso de mímica na bagagem.
Ninguém é obrigado a ser expert em outras línguas e também você não precisa aprender o que não gosta. Mas em certas ocasiões, falar inglês (ou espanhol, italiano…) é obrigação, se é que você quer se manter no mercado de trabalho sem passar vergonha. Decidi, por minha conta mesmo, fazer um teste em uma boêmia rua de Porto Alegre, conhecida por ter festas bacanas e bares lotados. Com certeza um lugar que atrairá diversos turistas cheios do dinheiro com muita vontade de gastar nesses lugares. Me “fantasiei” como estrangeira mesmo, uma pessoa normal que está na cidade para curtir a Copa do Mundo e também aproveitar a noite em uma das cidades sedes do evento futebolístico.
Cheguei, me sentei Prontamente, de trás do balcão veio um simpático rapaz com um sorriso no rosto e um cardápio na mão.
Ele: Olá, gostaria de uma cerveja agora?
Eu: Sorry?
Ele: Moça, você precisa de ajuda?
Eu: I don’t speak Portuguese. Do you speak English?
Neste momento me senti um ET, pois a cara de espanto do rapaz foi algo fora do comum. Os olhos deles ficaram tão grandes quanto a sua boca aberta, que gaguejava palavras soltas. Sua mímicas, completamente exageradas me deixaram com uma certa vergonha, pois todos passaram a observar aquele show a parte.
Ele: STOP! (dito em voz alta, parecia que eu era surda). Já volto! (ele encenava como se mandasse eu esperar)
Foi engraçado. Impossível não rir. Poucos segundos depois voltou uma senhora, acredito que a gerente do local.
Ela: Hello! VOCÊ (apontando para mim) GOSTARIA (ainda gritando) DE TOMAR ALGUMA COISA? (fazia gestos com as mãos encenando uma bebida na boca).
Me fiz de desentendida e apontei para o cardápio. Mostrei a Coca Cola, unica coisa que no mundo tem uma linguagem universal. Também apontei para uma figura que mostrava uma bela porção de iscas de filé com batata frita, mas em nenhum momento estava escrito (em inglês) o que era aquilo. Prontamente meu pedido foi atendido e eu consegui “o que queria”.
Sentei em outro bar para não fazer mal juízo daquela rua, mas o problema seguia o mesmo. Desta vez um gentil rapaz, que falava inglês (amém) sentou-se do meu lado e disse que poderia me ajudar na comunicação. Claro que depois de um tempo falei para ele que na real eu era gaúcha e apenas estava testando o quão preparado (ou despreparado) estava os estabelecimentos. Em apenas um lugar achei o cardápio em inglês. Um lugar! Preocupante? Alarmante!
Faz 7 anos que os brasileiros sabem que o país foi escolhido para sediar a Copa do Mundo. SETE ANOS (falo com a mesma entonação que o garçom falou comigo). O mínimo de INVESTIMENTO que os bares e restaurantes de Porto Alegre (e do Brasil inteiro) poderiam ter feito é pagar um cursinho de inglês para seus funcionários. Não é dinheiro gasto. É dinheiro ganho. Pois eu garanto que o pessoal de fora irá perder a paciência e procurar um lugar que sejam bem atendidos e COMPREENDIDOS. E aquele lugar, que poderia receber estrangeiros e ganhar dinheiro (por que sejamos sinceros, os gringos vão gastar) irá perder clientes.
Nem preciso dizer que fiquei com medo de fazer o teste com taxistas e ser roubada, estuprada e até morta depois (gente, não estou brincando). O legado que iremos levar dessa Copa será jogado no lixo, pois em vez de aproveitarmos para enriquecer a nossa cultura, teremos que sofrer as consequências de um país despreparado e ainda ouvir que somos ignorantes. To mentindo?
Infelizmente, o famoso “jeitinho brasileiro” desta vez não terá chance e o que teremos como recordação será apenas aquele 1 mês de pão e circo. Bem-vindo ao Brasil.