Ética ou descaso?

19/09/2015

O assunto que correu durante pelo menos da metade da semana para cá foi da tal falta de minuto de silêncio no jogo entre Internacional x Corinthians para Clóvis Acosta Fernandes, o Gaúcho da Copa. Personagem símbolo tradicionalista que ficou conhecido por percorrer todos os jogos da Seleção Brasileira em Copas do Mundo pilchado. Clóvis faleceu decorrente de um câncer na madrugada de quarta-feira.

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A verdade do que realmente aconteceu para não ter a homenagem póstuma ao Gaúcho da Copa ainda não foi revelada à imprensa. Porém, uns dizem que não teve o minuto de luto pela figura símbolo ter identificação com o time rival. A outra versão que corre nos arredores do Beira Rio é que o pedido vindo pela CBF não ter vindo previamente com o documento padrão que geralmente é feito nesses casos.

Mas qual é a ética que marca a presença de tal ato marcado em estádios de futebol? Concordo que personagens símbolos da nossa história e que nos representam de alguma maneira devem sim ser lembrados com carinho em momento de partida. Porém, quantos outros se desprenderam da terra e nem ao menos foi comentado em alguma rede social?

Talvez, o fato de Clóvis ter a identificação com o Grêmio causou revolta da parte azul pela ausência de homenagem na casa colorada. Mas quero chamar a atenção para o seguinte acontecimento: neste ano, milhares de famílias gaúchas, de cidades próximas a Porto Alegre, ficaram sem teto por causa das enchentes. Quantos gremistas e colorados não morreram afogados ou com pneumonia decorrente de tanta água e umidade? Ou vamos até um pouco mais recente, com o surto de meningite na região metropolitana afetando principalmente crianças e adolescentes. Houve homenagem? Houve chamarisco? Houve revolta?

Acredito que o Gaúcho da Copa tenha representado sim o Rio Grande, mas é importante rever os conceitos de “quem merece” o rito de minuto de silencia em estádios de futebol. Um personagem, um ex jogador, um presidente ou uma massa que exempla todo um estado? É tempo de rever os conceitos e ficarmos nós um pouco em silêncio.


Crônica do irmão mais velho – o amor vem com o tempo

18/09/2015

Meu bom irmão, o mais velho vindo do ventre materno que chamamos de lar. Você ficou mais velho essa semana e eu, como um bom caçula, esqueci de te parabenizar no dia certo. Talvez considere isso como birra minha ou talvez ciúmes. Encare como quiser.

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O fato é que estou aqui para homenageá-lo, por mais que as brigas constantes fazem parte da nossa rotina. Ô se faz.

Escrevo-te de azul, sua cor favorita. Me reverencio pela quantidade de anos que está completando, afinal a minha juventude você não tem mais – hehe – porém eu gosto dessa sua experiência. É bom. Esse clima de rivalidade entre nós de quem faz melhor me diverte e muito.

Vou ser sincero, as vezes quero que você morra. E desculpe por publicar essas palavras tão… tão… macabras. Mas sei que o sentimento é recíproco. Lembra da primeira tunda que você me deu? Eu era apenas uma criança e você não teve dó nem piedade. A vingança veio tarde, mas chegou. Tive que criar uns músculos na perna para poder bater em você com a mesma força. Perdoe-me o trocadilho, mas precisei de uma CACHAÇA para chutar a sua canela 5 vezes.

Foi estranho quando você saiu de perto de mim. Éramos tão próximos. Vizinhos com tantas facilidades na hora das visitas (nem sempre de bom grato) e agora você se foi para longe. Preciso pegar um ônibus e um trem. Sua petulância de comprar uma casa nova e se exibir tão cheio de ar nesse peito me fez crescer também. Obrigado. Como sabemos, a minha casa reformada você já conheceu. Temos sorte, possuímos uma bela moradia. Acho que viramos gente grande e nem conseguimos dar conta de tanta responsabilidade que veio junto com as rotações da terra.

Quando você debutou no Japão senti muita inveja. Confesso. E quando você ganhou duas vezes aquele objeto dourado no qual tinha uma plaquinha com o seu nome. Fiz como meta crescer igualmente ou até maior que você. Queria ser um GIGANTE. E para a minha alegria, hoje esse é o meu apelido. Você, como um bom irmão mais velho, me deu aquele empurrãozinho. Via tantos grandes a minha volta, via tantas conquistas de bom tom. Também teria que deixar a minha assinatura.

Você se considera IMORTAL. Você sabe que as vezes eu faço piadas com essa sua nomenclatura. Não posso deixar a BOLA QUICANDO sem poder chutar um pouquinho. Me desculpe. Mas também já ouvi muitas flautas vindo do seu lado.

E quanto aquela imortalidade, te digo de coração: viva muitos anos. Viva o dobro, viva sempre. Impossível ficar sozinha nesse estado sem a tua presença. Impossível ser gigante sem duelar com imortais. Impossível sermos os melhores sem nos unirmos em datas especiais.

Eu sou de abril. Você virginiano de setembro. Então, pelo menos, quando o ano chegar no seu 9º mês eu virei aqui e te dar o meu abraço de parabéns. Mas só dessa vez. Pois nossas intrigas e discussões que fazem milhares de pessoas nos amarem.

Feliz aniversário.

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Querida emissora, somos gaúchos

26/08/2015

E não paulistas, cariocas… Por acaso temos cara de flamenguista ou são paulino?

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Não querendo evitar uma discussão, senhora emissora de televisão. Mas acho triste o fato de nós, gaúchos mateadores de erva amarga, termos que dividir o nosso aconchego de quartas e domingo com os demais estados do Brasil. Ora, não encare o meu comentário assim pelo lado negativo. Queremos sim saber o que está se passando com os nossos adversários de ponta, porém, não quero acompanhar sempre os jogos deles e somente deles.

Fazer com que mais pessoas vão ao estádio de futebol para não ficarem em casa assistindo pela TV aberta é bobagem. Pois encarar 90,00 de ingresso está longe da realidade do futebol brasileiro e também do bolso do torcedor. Aí não, né?

Agora chegar a ponto de curtirmos jogos da Copa do Brasil, Libertadores ou Sul Americana jogando o clássico Santos x Corinthians sendo que o RS, o estado mais bairrista que existe nesse país. Aqui não existe aquela palhaçada de ter torcedores gaúchos vestindo a camiseta do Vasco (ah não ser que essa pessoa seja nascida no RJ). Aqui ou tu é Inter, ou tu é Grêmio ou tenha sérias paixões e devoção pelo Cruzeirinho.Alguém sabe por acaso o que está se passando com a Super Copa Gaúcha ou o que está rolando no Campeonato Valmir Louruz? Talvez os feitos do Lajeadense e do Novo Hamburgo não tenha grande expressão para as emissoras abertas ou fechadas. Mas nós gostamos. E sim, curtimos o nosso ruralito em qualquer dia do ano e não só na época dos estaduais.

Talvez o sorteio dos jogos não tenha dado muita sorte pro pessoal do Sul, colocando tanto Inter quanto Grêmio na quinta-feira. Mas faz tempos que os nossos times não tem brilhado nos jogos das 10 da quarta-feira.

Temos o maior quadro social do país. Nossos times do interior possuem torcidas organizadas de ampla expansão (vida Brasil de Pelotas). O Juventude inclusive já jogou na série A. E se quisermos clássicos de verdade fora os da capital, temos o CaJu e o BraPel.

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Seria gentileza e honra nos agraciar talvez, por que não, com  Série Ouro do campeonato de futsal. Ou a Série Prata. Sei lá, nos agrade.

Portanto, dona TV, foi ofertado um bom leque de possibilidades para que nos satisfaça. Pelo menos nós, os gaúchos.


Crônica do torcedor – Dos dias que se promete até o impossível

29/07/2015

– Se ganhar não bebo refrigerante por um ano.

– Se aquele cara segurar o pênalti, te pago uma cerveja amanhã.

– Juro que se a gente levantar a taça eu vou subo de joelhos até a igreja do Santo Expedito.

Sem título

E por aí vai milhares e milhares de frases que, independente do time que o cidadão torça, são ditas no momento de maior aflição. Pois se tem algo em comum dentre milhares de humanos que amam o futebol, as promessas malucas certamente são as que chegam em primeiro lugar.

Dia de jogo, semi final ou final de campeonato, não importa. Se for sozinha ou com um amigo também não interessa, afinal, ao chegar no estádio terão mais uns 40 mil amigos de primeira (e última) vista que estarão contigo pelo mesmíssimo propósito.

Já na fila do cachorro quente começa aquele papo “apostei uma caixa de cerveja com meu colega do trabalho que a gente levanta mais essa”. Até aí, as 12 latinhas são inocentes e baratas comparando com o desenrolar de todo os 90 minutos que ainda estão por vir.

No  momento de jogo, aquela tensão maluca e também segurança de que dois ou três gols vão sair. Afinal você sonhou que o craque do time recebia uma jogada iniciada de escanteio e finalizava num cabeceio. Claro que isso iria acontecer, afinal essa ta,bem virou uma aposta com o vizinho de porta. A pessoa pode parecer a mais descrente do mundo, mas em dia de jogo vira Pai de Santo, Bola de Cristal, tem premonições, tudo!

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O desenrolar do jogo não começa da forma mais esperada. Afinal aqueles 3×0 que havia gritado no escritório como ar de adivinhação já havia ido para as cucuias quando o outro time lançou uma bomba não dando chance para o seu goleiro. Olha para o lado do cidadão ao lado que também demonstra face de horror e avisa “acho que dá e se der, vai ter churrascada no domingo”.

A situação piora quando o craque do time, aquele mesmo do gol dos sonhos, se lesiona e precisa ser substituído. O que serão das premonições agora? Será que o profeta que havia baixado em você estava com defeito de fábrica? Só não promete a venda da mãe porque não dá.

Para tudo que, como se bastasse levar um gol, agora tomaram mais um. Esse é aquele momento de ajoelhar e pedir para o primeiro santo que vier a cabeça. Pois se a vontade dos jogadores não estava dando para colaborar, talvez alguma divindade acima poderia ajudar.

– Só um empate e eu já faço 10 doações de cestas básicas para a instituição de crianças carentes.

Independente do final do resultado, esteja você feliz ou não, você sai do estádio carregado de dívidas e de missões para cumprir. O adeus ao doce, ao dinheiro que terá que gastar e aos joelhos que ficarão meio calejados por causa das escadas.

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E quem disse que ele aprende? Mais uma final, mais uma promessa.


Quando se é melhor ficar no silêncio

26/06/2015

Falar sobre a atual Seleção Brasileira é sempre muito delicado. Hora criticada, hora aplaudida, os canarinhos de 2015 não vem apresentando aquilo que vivemos há pelos menos 20 anos atrás. Ou não precisamos ir tão longe. Basta nos lembrarmos de 2002. E esse tema foi deveras discutido nesta semana.

Porém, se falando em anos passados, o técnico Dunga, em sua entrevista coletiva pós jogo contra o Paraguai, respondeu várias críticas. Só que, por mais que tenha sido baleado com tantas perguntas, a resposta deste cidadão que tanto nos alegrou na Copa de 94 disse entrelinhas que se parecia com um afrodescendente de tanto que apanhou e gostava.

Se formos fazer um balanço e um parâmetro de tempos, existem diversas coisas a serem colocadas no papel. Sim, tivemos muito que nos orgulhar de um futebol suado sem a cortina de patrocínios e marqueteiros que enfeitam o atleta. Era aquilo e deu. 94 funcionou assim. Não deu em 98 mas em 2002 estávamos lá novamente.

Me admira um profissional com tanta influência no nome, com Copa do Mundo nas costas quando atleta, com Copa América e das Confederações como técnico e que tanto bateu o peito para falar em tempo, se esquece que a era da escravidão e do horror que os negros passaram estavam na Mesopotâmia, China, Índia, Egito e os Hebreus. O Brasil é um país onde a população afro é quase de 50%. Um país de raças.

Talvez o nosso treinador não lembre, mas no elenco da atual seleção existem 15 jogadores negros – Jefferson, Daniel Alves, Geferson, Miranda, Elias, Fernandinho, Fred, Willian, Fabinho, Marcelo, Danilo, Luiz Gustavo, Douglas Costa, Neymar e Robinho- dos 23 convocados.

Por mais que horas depois o treinador tenha se esquivado da sua declaração e se posicionou pedindo desculpas pela declaração, ainda assim era melhor ter ficado calado.


Os bons morrem jovens

07/06/2014

Não falemos de títulos, de gols, de troféus. Falemos de outra virtude que também simboliza conquista. Mérito, glórias, amor. Nem todas as estrelas brilham tanto no céu, onde dividem espaço com outros astros. Mas apenas aquelas que, mesmo depois de mortas, continuam a brilhar. Fernandão foi assim. E, se o poeta me der licença de repetir o seu discurso, eu discorro “É tão estranho; Os bons morrem jovens; Assim parece ser, quando me lembro de você; Que acabou indo embora, cedo demais…”

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Com ele, aprendi que se pode ter esperança de um caminho melhor. Que lealdade é a palavra mais importante no mundo do esporte e que a vitória chega na base de muita luta e suor. Dono de uma garra sem igual, Fernandão (ou F9, para os fãs), me mostrou que ainda se pode acreditar no amor a camisa, que ainda existem pessoas que beijam o escudo com vericidade e que grandes homens se formam com sangue e transparência.

É tão estranho
Os bons morrem antes
E lembro de você e de tanta gente que se foi cedo demais
E cedo demais,eu aprendi a ter tudo que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu que tive um começo feliz
Do resto não sei dizer

As memórias ainda flutuam na nossa cabeça. O centroavante não conquistou apenas grande parte dos gaúchos, goianos e paulistas mas também o mundo, quando num certo dia de dezembro mostrou que humildade e dedicação valem mais que nome e fama. E esse legado ficará registrado em todos que puderam conviver com essa grande figura que foi e sempre será o camisa 9. Seja o Testa de Ferro, Homem Gol, Capitão América, Dono do Mundo… Para mim, em particular, ainda é muito difícil acreditar ou escrever sobre esse atleta que eu ouso em dizer, foi o maior da história do Internacional. Levas a plagas distantes; Feitos relevantes; Vives a brilhar; Correm os anos, surge o amanhã; Radioso de luz, varonil; Segue a tua senda de vitórias.

UH, TERROR, FERNANDÃO É MATADOR!


Porto Alegre não falar sua língua

21/05/2014

É engraçado ter que lembrar isso, mas no mundo real, as coisas não funcionam como nas novelas, que quando se viaja para fora do país, todo mundo sabe falar português. O Brasil pode até se iludir achando que suas cidades estão preparadas para receber uma Copa do Mundo mostrando Estádios perfeitos e tapando as obras inacabadas. Mas a falta de comunicação e a despreparação dos estabelecimentos perante ao turista estrangeiro não terão como serem colocadas de baixo do tapete. E o que pude ver em Porto Alegre é que os gringos que chegarem aqui sairão com um belo curso de mímica na bagagem.

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Ninguém é obrigado a ser expert em outras línguas e também você não precisa aprender o que não gosta. Mas em certas ocasiões, falar inglês (ou espanhol, italiano…) é obrigação, se é que você quer se manter no mercado de trabalho sem passar vergonha. Decidi, por minha conta mesmo, fazer um teste em uma boêmia rua de Porto Alegre, conhecida por ter festas bacanas e bares lotados. Com certeza um lugar que atrairá diversos turistas cheios do dinheiro com muita vontade de gastar nesses lugares. Me “fantasiei” como estrangeira mesmo, uma pessoa normal que está na cidade para curtir a Copa do Mundo e também aproveitar a noite em uma das cidades sedes do evento futebolístico.

Cheguei, me sentei Prontamente, de trás do balcão veio um simpático rapaz com um sorriso no rosto e um cardápio na mão.

Ele: Olá, gostaria de uma cerveja agora?

Eu: Sorry?

Ele: Moça, você precisa de ajuda?

Eu: I don’t speak Portuguese. Do you speak English?

Neste momento me senti um ET, pois a cara de espanto do rapaz foi algo fora do comum. Os olhos deles ficaram tão grandes quanto a sua boca aberta, que gaguejava palavras soltas. Sua mímicas, completamente exageradas me deixaram com uma certa vergonha, pois todos passaram a observar aquele show a parte.

Ele: STOP! (dito em voz alta, parecia que eu era surda). Já volto! (ele encenava como se mandasse eu esperar)

Foi engraçado. Impossível não rir. Poucos segundos depois voltou uma senhora, acredito que a gerente do local.

Ela: Hello! VOCÊ (apontando para mim) GOSTARIA (ainda gritando) DE TOMAR ALGUMA COISA? (fazia gestos com as mãos encenando uma bebida na boca).

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Me fiz de desentendida e apontei para o cardápio. Mostrei a Coca Cola, unica coisa que no mundo tem uma linguagem universal. Também apontei para uma figura que mostrava uma bela porção de iscas de filé com batata frita, mas em nenhum momento estava escrito (em inglês) o que era aquilo. Prontamente meu pedido foi atendido e eu consegui “o que queria”.

Sentei em outro bar para não fazer mal juízo daquela rua, mas o problema seguia o mesmo. Desta vez um gentil rapaz, que falava inglês (amém) sentou-se do meu lado e disse que poderia me ajudar na comunicação. Claro que depois de um tempo falei para ele que na real eu era gaúcha e apenas estava testando o quão preparado (ou despreparado) estava os estabelecimentos. Em apenas um lugar achei o cardápio em inglês. Um lugar! Preocupante? Alarmante!

Faz 7 anos que os brasileiros sabem que o país foi escolhido para sediar a Copa do Mundo. SETE ANOS (falo com a mesma entonação que o garçom falou comigo). O mínimo de INVESTIMENTO que os bares e restaurantes de Porto Alegre (e do Brasil inteiro) poderiam ter feito é pagar um cursinho de inglês para seus funcionários. Não é dinheiro gasto. É dinheiro ganho. Pois eu garanto que o pessoal de fora irá perder a paciência e procurar um lugar que sejam bem atendidos e COMPREENDIDOS. E aquele lugar, que poderia receber estrangeiros e ganhar dinheiro (por que sejamos sinceros, os gringos vão gastar) irá perder clientes.

Nem preciso dizer que fiquei com medo de fazer o teste com taxistas e ser roubada, estuprada e até morta depois (gente, não estou brincando). O legado que iremos levar dessa Copa será jogado no lixo, pois em vez de aproveitarmos para enriquecer a nossa cultura, teremos que sofrer as consequências de um país despreparado e ainda ouvir que somos ignorantes. To mentindo?

Infelizmente, o famoso “jeitinho brasileiro” desta vez não terá chance e o que teremos como recordação será apenas aquele 1 mês de pão e circo. Bem-vindo ao Brasil.


Quase na hora

15/05/2014

Era comum nas ruas se ver as bancas lotadas de crianças e adultos comprando pacotes de figurinhas. Mais ao lado, via-se pessoas trocando seus cromos repetidos e preenchendo o seu álbum. A cada lacuna completa, um grito de excitação era soado, semelhante àqueles momentos que seu time do coração marca um gol. Agora, a realidade é outra.

Pessoas correndo, gente eufórica, mantas coloridas no pescoço, bandeira na sacada. A contagem regressiva já começou e muitas pessoas estão prestes a realizar o seu sonho. Ver seu ídolo apenas em um papel colado num livro de plástico podia se transformar em um momento real com o jogador a poucos metros de você. Neste momento, aquele mesmo público que se aglomerava em bancas, agora procura seu bilhete premiado na web.

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Todo esse imaginário mexe com o coração dos fanáticos pelo futebol. Poder gritar “estou com você” para qualquer que seja o seu jogador favorito é a realização de jovens e adultos. E não seria diferente a imagem fixa que temos de crianças fardadas e pintadas e fotos postadas dos tickets adquiridos com muito orgulho. Não apenas os estádios, mas a internet, que é uma das grandes responsáveis pela venda de ingressos online, vira a sua aliada nesta fase pré, durante e pós Copa. Afinal, ninguém quer perder um só lance, deixar de postar uma só foto ou não contar a ninguém que você conseguiu estar presente num dos momentos mais legais do mundo esportivo.

Torcedores lotam bilheterias, ficam horas na internet na busca de seus passaportes para ficarem, talvez, perto de gritar o nome do atleta favorito. Em menos de um mês para a Copa, é nítido o desespero de quem ainda não conseguiu um bilhete para curtir qualquer jogo. Partidas da Nigéria, estreia da Bósnia… Qualquer coisa já seria uma grande parte para a sua história em Copas do Mundo. As filas crescem, as lágrimas caem. Quem ainda não tem a certeza que irá participar, por vezes, apela pelos cambistas ou cai no buraco dos ingressos falsos, comprometido por tanta ansiedade que prospera no corpo. Hoje em dia, é mais fácil conseguir ingresso dentro de casa, com o Brasil Iguanatickets, por exemplo, do que negociando com vendedor ambulante.

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Independente da forma que você for, da camiseta que pôr e para quem torcer, aquele papel na mão é o seu troféu, torcedor. Vá ao estádio mesmo sem torcida, mesmo sem lugar. Você pode estar prestes a ouvir no velho radinho que o Fred foi o primeiro a inaugurar os placares da Copa no Brasil. E você, brasileiro, estava lá para ver a Seleção Canarinho fazer tudo isso.


A criatividade aflora na Copa do Mundo

13/05/2014

Gostando ou não da Copa do Mundo, você tem que concordar comigo: dá gosto de ver a publicidade nesta época.

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Então resolvi postar algumas propagandas que destaco ser as melhores, em minha humilde opinião.

Nike, Quem ganha fica – Genial. Os publicitários ousaram em fazer de uma pelada de guris um super campeonato recheado de craques. Quando cada garoto pega na bola, ele fala o nome ídolo e se transforma nele.

Visa, Todos são bem vindos – Comercial que mostra a “possível” reciprocidade com todos que chegarem ao Brasil. Para mim, a mais bem bolada.

Quilmes, Con que se van a encontrar – Recomendo a todos que gostam de publicidade a ver os comerciais da Quilmes. Vale a pena. Sim, marca argentina e propaganda também, mas vale muito!

TyC Sports, 2010 – A propaganda é da Copa de 2010, mas não me canso de ver e de admirar o orgulho e garra que os argentinos encaram cada competição. Acho que falta um pouco disso no Brasil.

Eu teria mais diversas propagandas para postar, mas a capacidade de upload do blog o deixaria muito pesado. Mas já fico feliz de dividir esses com todo mundo. O que acham?

 


País do futebol

06/05/2014

Seria um jogo normal, no qual eu mesma iria prestigiar se não fosse o susto que levei. Me redirecionei até o guichê de compra de ingresso. Escolhi uma partida da Libertadores para aproveitar aquele meu momento de brasileira e torcedora. Foi aí que começou o meu pesadelo.

– Um ingresso de arquibancada inferior.

– R$120,00.

– Moça, eu só pedi 1.

– Sim, sim. Este é o valor. Se você for estudante, dá para comprar pela metade do preço.

– Não. Não sou. Sou trabalhadora mesmo.

– É! O ingresso mais em conta é esse, por 120 Reais.

Óbvio que não comprei e sem sombra de dúvida saí dali com vontade de me pronunciar sobre o país que se diz a Pátria de chuteiras. Que chuteiras seriam essas? Da Nike? Que país é esse que cobra um valor absurdo em cima de um ingresso no qual a população que prestigia batalha por um prato de feijão à mesa todos os dias. Não seria estranho perceber que nossos estádios não ficam mais lotados, não são mais coloridos e não se escuta mais vozes cantantes. Afinal, o padrão FIFA proporcionou uma nova população que adentra aos parques esportivos.

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Entender o que está se passando com o futebol brasileiro é complicado quando você apenas quer se sentar numa cadeira e comemorar com o cara do lado o gol do seu time. Compreender a fusão que as grandes indústrias e o marketing estão fazendo com o nosso esporte é complicado para o povo. E quando falo ‘povo’, quero ilustrar aquelas pessoas que ganham um salário mínimo mas se escabelam para comprar um ingresso e ir de ônibus até o jogo.  Famílias que iam com até dois filhos no colo já não estão mais ali. Pessoas de todas as classes também não. O que se vê é um povo selecionado e aquele sócio que engole o valor mensal para conseguir ir nos campeonatos.

Isso tudo se deve a quantos motivos? Aqueles mesmos que fizeram o futebol brasileiro evoluir e parar de fabricar craques e ídolos? Aquele mesmo que fez os dribles bonitos se ofuscarem e apenas escândalos de festas e bebedeiras ficarem em evidências? Aquele mesmo que apagou da memória do próprio jogador a vontade de se mostrar bom de bola e apenas querer brilhar na próxima campanha daquela marca de roupas. É triste, torcedor, mas você terá que se conformar. O normal agora é pagar por pacotes de esporte na TV a cabo. Ou para os mais espertos, puxar o gato do Payperview e conseguir acompanhar os jogos de graça. O que deveria ser de fácil acesso para um país do futebol custa mais do que muita hora mensal trabalhada. Mas ninguém lembra disso na hora de gritar gol.

Talvez você ache que fui radical demais, afinal, se não quer pagar, não reclame e não vá ao Estádio. Mas eu queria perguntar, amigo leitor, você realmente acha que nasceu no país da pelada?